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domingo, 13 de setembro de 2009

Uma onda sem retorno.


E meio a medo, ela olhou-me nos olhos e perguntou-me: «O que é o amor?»

«Céus…», pensei. De todas as perguntas possíveis ela escolhera talvez a mais complicada. O que é o amor… Fiz uma regressão naquele momento, memórias enchiam-me por dentro enquanto que, surpreso por fora, o meu corpo não conseguia reagir tão imediatamente quanto fora a convicção daquela pergunta.

«O que é o amor…» Eu queria ser sincero, mas para a genuinidade da minha resposta ganhar forma teria de me conseguir desprender da profunda tristeza que nascera comigo e me acompanhara ao longo de toda a vida, acentuando-se em etapas onde realmente fazia todo o sentido que essa agonia se estendesse através da minha figura.

«O que é o amor…» Quando amámos demasiadas pessoas torna-se um sentimento perturbador, um conceito vulgarizado pela nossa necessidade de atenuar a dor que as separações nos causam.

«O que é o amor…»

Há muito que não falava disso com alguém e, estar diante daqueles jovens, puros e ternos olhos azuis, falando de um sentimento que para mim sempre fora tão fúnebre, era como estar envolto numa estranha nudez, trauteando mágoas a alguém que por não ser eu, me fazia sentir esquisito. Mas enchi-me de coragem, olhei os seus olhos de oceano interminável e respondi.

«Talvez sejam três, as formas de amor… Uma primeira, quando desconhecemos a pessoa e apenas cedemos à química que se abate sobre dois seres humanos que decidiram comunicar. Uma segunda, que é quando ainda sentimos momentos semelhantes ao dessa primeira vez mas ficamos menos tolerantes perante os instantes em que as dúvidas, a rotina ou os conflitos entorpecem essa química e, uma última, talvez a mais sentida das formas de amar, que é quando compreendemos finalmente que deveríamos ter abraçado sempre essa química e não deixá-la escapar aos poucos, até ficarmos sós e a pensar nas coisas boas que vivemos ao lado da pessoa que amámos.»

Por momentos, pensei que os seus olhos eram mesmo o oceano. Por momentos nada mais se ouviu senão o barulho do seu leve coração, estilhaçava-se dentro do seu peito. Por momentos, eu soube que alguém me amava.

Pouco depois, ela afastou-se. Nada disse. Apenas se foi embora, como uma onda que nos cumprimenta brevemente e regressa sem retorno ao infinito de onde pertence…



3 comentários:

Flavio Dutra disse...

Novamente aquele arrepio me percorrendo a pele quando leio teus textos.Identificação completa com o que escreves. É pura poesia!

... disse...

excelente texto*

patricia disse...

Muito bonito! Interessante visão do amor, principalmente para uma alma jovem.