BLOGGER TEMPLATES AND TWITTER BACKGROUNDS

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Novo Blog








sexta-feira, 6 de agosto de 2010


É estranho estar cá dentro. Neste lugar, que sou eu, aprisionado sistematicamente a uma dimensão algures situada entre a evasão e a realidade. E ser, por consequência dessa incapacidade de resposta, um vulto paralisado. Uma matéria organicamente desenvolvida para não ser nada.

A paz pode ter os seus limites. Já pensaram nisso?... Ser pacífico numa realidade que não o é pode fazer de nós animais raros mas, e ao mesmo tempo, torna-nos indivíduos incapazes de tomar uma posição. Criaturas dotadas de uma sensibilidade estúpida. Munidas de um grau de intelectualidade elevado, mas inútil.

Se aqueles que não são como nós [quando digo aqueles refiro-me à maioria que cede aos caprichos mundanos de fazer tudo o que bem lhe apetece sem que tal intento reproduza acidentes drásticos nos carris da sua consciência], por nos serem dissemelhantes, nos são capazes de reconhecer a distinção e até de aplaudi-la, jamais serão capazes [porque não vêem nela, quiçá, progresso social algum] de transfigurá-la para as suas próprias vidas, de que nos serve então sermos diferentes [pacíficos], ou melhor, reconhecidamente diferentes [pacíficos]?...

Pois bem, é dessa incompreensão que tenho padecido nestes últimos dias. Mentiria se não vos dissesse que tentei resolver facilmente a coisa. Ainda ontem, por exemplo, arquitectei a hipótese de me deslocar à farmácia mais próxima, na ânsia de encontrar um daqueles medicamentos milagrosos que curam tudo. Todavia, o alto índice de culpabilidade que a sociedade me foi cravando silenciosamente na consciência ao longo dos anos [uma arte de nos tornar máquinas capazes de racionalizar todas as possibilidades] acabou por me paralisar uma vez mais, condenando-me a um estranho e profundo medo de reacção. Por outras palavras, tive receio de arriscar. Podia dar efectivamente certo, como podia não dar. E era um 50/50 mentiroso, já que escondia ainda outras possibilidades na cartola. Se resultasse, e eu conseguisse de facto encontrar resposta para a minha dúvida poderia ficar esclarecido mas existiria sempre a possibilidade de desenvolver algum tipo de efeito secundário. Daí talvez o medo. Esta coisa às vezes tão confusa de entender, mas que foi crucial para que eu não tivesse arriscado a ingerir o dito composto químico. Por outro lado, que existem sempre outros lados [é a tal máquina de guerra que vos falei à pouco a funcionar novamente], se não resultasse, para além de manter a dúvida na mesma perspectiva, ou seja, em algo essencialmente impossível de explicar, de corroer ainda mais a minha carteira com novo desfalque financeiro e de continuar a por em causa a integridade do meu organismo global [digo global porque ele é corpo e mente] com possíveis aparecimentos de efeitos secundários, ficaria duplamente frustrado. Primeiro porque não teria conseguido resolver a dúvida que me salteava a mente; Segundo, porque teria de me reconhecer enquanto um ser completamente bucólico, perfeitamente tolo, vá, capaz de acreditar no mais pequeno disparate que lhe aparece diante dos sentidos, se tal implicar a cura para qualquer coisa que o perturbe incessantemente no imediato e curto espaço que é a sua vida…

É verdade caros e fiéis amigos. Ser pacífico poder ser um acto mais estranho do que parece. A paz pode ser mais estranha do que parece. Sobretudo porque não vivemos num mundo construído à sua imagem mas num outro, recheado de bolas de Berlim fora de prazo. É aí que ser pacífico se pode tornar também e, de certa forma, um tanto ao quanto doloroso. Objectivamente em momentos onde um ser pacífico se veja obrigado a consumir alguns desses bolos para poder manter o seu organismo funcional, que é como quem diz, para poder sentir-se parte incluída de um sistema maioritariamente assumido. É claro que incorre sempre no risco de padecer de diarreia, pois os bolos fora de prazo podem albergar potentíssimas bactérias, invisíveis aos olhos humanos, mas que na sua consistência, se apresentam às tripas como verdadeiros demónios.

E o que fazer em momentos como esses, deverão estar vocês a questionar? Por vezes a única solução é mesmo retornar às nossas origens, descortinando o bicho primitivo que existe em cada um de nós, e deixar que toda a matéria inquinada flua pelas bordas dos nossos cús a fora, como um rio que luta heroicamente para correr entre os leitos mais íngremes do planeta. Sim caros amigos, é reflectir para se chegar ao consenso de que se errou, e voltar humildemente a ser-se quem se era.


domingo, 20 de junho de 2010

Descansa em paz amigo.


Sexta-feira, dia 18 de Junho de 2010. Mais do que um magno escritor morre um dos mais lúcidos filósofos portugueses de sempre.

Há coisas que não se devem escrever por poderem correr o risco de ficarem incompletas, por isso, não falarei do Homem que foi Saramago. Por isso, não falarei do exemplo que ele foi para os abençoados que quiseram entender o significado real das palavras que lhe nasceram da mente. Por isso, e, da minha grata ignorância, só posso aqui deixar uma mensagem: - Que descanse em paz no Universo infinito do nada...

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Arde um beijo.

Arde um beijo. Os labirintos das nossas línguas são o fogo. E as bocas, o único oxigénio que controla o que resta de consciente nesse gesto. E Arde… Arde… Arde.

[Existem incêndios que jamais haveriam de se extinguir…] Os nossos corpos respondem, e, por entre os resquícios de mais um dia penosamente igual aos outros, o perigo interrompido desse acto socialmente proibido, desnuda-nos as almas e torna-nos mais humanos.

domingo, 4 de abril de 2010

Reflexo.


Não consigo evitar. É mais forte que todos os meus sentidos lutando com bravura contra a maré da realidade. Fazes-me cócegas no coração. Daquelas que me perturbam veemente a coordenação motora, fazendo-me assemelhar à palavra mais próxima que existe do sinónimo totó, e que eu não me lembro agora qual seja. Sim, porque eu só penso em ti. Nas mamas tímidas que trazes por baixo da tua blusa bordeou. Na estética peculiar da tua boca. No jeito ordinário do teu olhar. Na fragilidade que escondes por trás da tua aparente simpatia.

Não consigo evitar. É como que um eco eterno de ruídos entrando por mim a dentro, embutindo sedutoras perguntas na minha consciência, sobre quem és, sobre todo aquele mistério que usas para te esconderes de ti própria. Para te esconderes de mim também. Gosto disso. Sei que também gostas, e desse jogo vive aquilo que ambos teimamos em negar.

Eu e tu. Os dois. Somos o reflexo putrefacto que perturba os eixos da sociedade. Não respondas, poupa-te em palavras. Saberei, entre o teu silêncio, que o admitirás dando vida a uma pré-construção mental de uma não resposta: «é verdade». Já o consigo ouvir… Vives do prazer que isso te causa nas vísceras, assim como eu vivo. Somos o reflexo um do outro. Brinquemos pois então ao jogo manifestamente necessário para que as nossas almas continuem funcionais. Tudo o resto é superficial. Tudo o resto é matéria que corrói o sentimento. Tudo o resto é convencional demais para que consigamos admitir o que sentimos um pelo outro. Tudo o resto é o fim, aquele de que as pessoas com medo se munem quando não conseguem dizer mais nada sobre a fracção de tempo que passará um dia por elas sem nunca mais voltar…

domingo, 21 de março de 2010

Carrossel.



Num dia onde abelhas
Namoriscavam por
Cima do néctar
De malmequeres
E borboletas sacudiam
O vento com as asas,
Andorinhas fingiam
Que comiam
Para não verem
Suas pequenas
Carcaças roubadas.

Os pardais olhavam,
Num dia onde o sol
Reflectia nas teias
De aranha
Um sinal de emboscada.
E grilos anunciavam com
Música, o presságio
De uma morte esperada.

Os gatos olhavam serenos
em cima de um muro.
Os cães permaneciam agitados
Por baixo.
Nas ervas, o som do arrasto
De uma serpente.

O rato comia
Cereais desprevenido.
Não a ouviu,
Não a cheirou
E, quase certamente
Que não a sentiu.

Tssssss...

Com o abalo
As andorinhas fugiram,
Levando consigo um bando
De pardais enganados.
Enquanto abelhas
Se divorciavam das flores
E, Milhares de borboletas
Rumavam assustadas
Sem saberem,
Para um outro vazio.

E o sol
Continuou a queimar teias,
Intensificando a sua presença
Com o emudecimento dos grilos.

Os cães sumiam ao longe,
Os gatos volviam aos
Seus destinos solitários.

E tudo voltou ao normal
Quando a volta do
Carrossel foi cumprida…

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Acordo Ortográfico


Sinceramente, fico transtornado por transformarmos as poucas coisas boas que temos no nosso país.

Fico triste por sermos um povo que continuadamente prefere enxergar-se aos poucos nos estilhaços, permanecendo para sempre dividido, e por isso desconhecido em torno de si mesmo, em vez de, e com coragem, optar pelo lúcido e bravo acto de formar um ego que o torne suficientemente capaz de se achar merecedor de se ver com totalidade, no reflexo produzido por um espelho inteiro.

Em Portugal, e por culpa própria, temos a tradição “histórico-masoquista” de aceitar que as vozes divinas do poder ponham e disponham como bem entendam das letras. Vivemos bem assim, num cantinho algures situado entre o nada e a mediocridade. Porque, e quem sabe, as nossas consciências, as vozes soberanas que habitam em nós, e apenas nós mesmos, as do nosso infra-ego colectivo, ganharam o hábito de fazer exactamente a mesma coisa, de usar as letras sem sentido, sem qualquer objectividade, sem qualquer sinal de uma emancipação sociológica que nos permita caminhar com a segurança de quem sabe quem é, para onde quer ir e o que pretende fazer para lá chegar.

Os políticos brincam com as nossas vidas fazendo uso das letras que aprenderam a manusear, nós permitimo-lo. Mais tarde, um tarde que é quase sempre igual, vingamo-nos dessa classe da mesma forma como esta nos castiga... Recorrendo às letras para os enxovalhar com vaidade, a partir do nosso silêncio, aquele cantinho de que há pouco vos falava.

Depois acontecem fenómenos como este e que, na sua essência, fazem despoletar o continuar de um ciclo de insatisfação, crítica tenaz mas que será sempre e apenas isso, crítica por um lado e teimosia por outro. Não digo que tal acto não seja legítimo, pelo contrário, ele é-o. Todavia, e numa democracia entendida pelo povo enquanto isso mesmo, por vezes há que saber quais são os limites do poder eleito e fazer nascer da crítica algo de mais concreto, pois de contrário a nossa insatisfação jamais se traduzirá em mudança, no fundo aquilo que serviu de base motivacional para que a nossa crítica nascesse e ganhasse o seu sentido.

As letras são, sendo aqui a palavra globalização um conceito chave para que se entenda isto, dos poucos traços culturais que ainda nos distinguem enquanto nação.

Não temos uma economia própria, dependemos em muito do que se passa nos E.U.A. Não temos um modelo de educação próprio, estamos limitados pela União Europeia, que o molda em reuniões fechadas para o soltar posteriormente, e muitas vezes de forma estapafúrdia, em sociedades que não estão ainda preparadas para o receberem com tal formato. É claro que isso depois gera consequências, designadamente um acréscimo de profissionais incompetentes. Exemplos disso são as variações repentinas do insussesso/sucesso escolar que, em curtos espaços de tempo, oscilam entre muito más e extremamente satisfatórias no nosso país. Depois, e num finalmente compreensivelmente sintético dadas as inúmeras possibilidades de exemplos homogéneos que aqui poderia dar, não temos personalidade social, o que nos torna incapazes de manifestar na prática qualquer insatisfação.

Por tudo aquilo que acabei de referir, e por outras coisas mais que ficaram e ficariam sempre por dizer, eu não posso ser apologista do acordo ortográfico. Seria ainda bom de referir que, em certa medida, esta opção acaba por ser um enorme sinal de desrespeito para com aqueles que fizeram e fazem das letras a sua vida. A inovação faz-se a partir da criação de novas palavras que exprimam melhor do que as já existentes aquilo que pretendemos comunicar. Alterar as que já existem nada mais fará do que gerar atraso literário, pois uma pessoa que domine hoje um vasto leque de vocabulário terá de perder tempo a corrigir uma fatia substancial do mesmo. Que progresso existe nisto?...

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Relógio


Ziguezagueio na neblina de um dia complexo. Bum! Bum! Ouço, repentino, o som que me explode na consciência. Atrasado. Não vale a pena, nunca valeria. Mas olho, como se isso servisse para me desculpabilizar um pouco, para o relógio de punho que nunca tive.

«Talvez devesse dizer ao patrão que os atrasos são culpa do meu jeito minimalista.» Penso, antes de chegar à conclusão de que me atrasei mais um pouco. «Há mulheres que dizem que os homens não conseguem fazer muitas coisas ao mesmo tempo.» Seria sensato ter concordado com essa ideia naquele momento.

Se pudesse mandava esta vida para um sítio tropical e ficaria, sem repulsa alguma, num mais frio e ventoso. A rotina enraivece as raízes do cabelo. Ziguezagueio mais um pouco.

Uma hora não é muito tempo. Digam isso ao meu patrão, quando me atraso, como hoje… Uma hora pode fazer com que duas pessoas se odeiem mutuamente. Que se odeiem para a eternidade!

Bom, e lá fico eu, como sempre. Entre mais um dia onde, em vez de ziguezaguear formalmente chateado durante o resto que lhe sobra, me acomodo a prevalecer falaciosamente contente.

«Talvez devesse fazê-lo mais vezes, quem sabe se dessa forma não teria mais amigos».

Bum! Bum! Bum! Ouço, repetidamente, o som que me nasce da essência. Se possuísse o relógio que nunca tive, talvez tivesse coragem de sair à hora certa. «O minimalismo pode ser sombrio.», sussurro, seguro de que ninguém me ouve.

Talvez acorde amanhã mais cedo, passe numa loja, compre um relógio de pulso seguramente funcional e corajosamente, saia mais cedo…

domingo, 3 de janeiro de 2010

Às vezes, pensar que não gosto de pensar no mundo, revela-se algo extraordinariamente sensual perante a minha percepção. É, sobretudo, em momentos como esses que tenho a certeza que não sou bom nem mau tipo. Que não sou uma mente genialmente configurada de um jeito alternativo, ou, parte numérica de uma quantificação de massas estupidificada, uma um pouco mais extensa do que aquelas que se podem encontrar vulgarmente sentadas, de jeito confortável, diante de uma tela gigantesca e que, como forma de atenuarem os seus espasmos nervosos, provocados na sua essência, por montagens electrizantes de efeitos visuais psicadélicos e sons não menos irritantes, se munem, todas contentes e atomizadas, que é como quem diz, de modo néscio e singular, sempre da mesma forma; Numa das mãos carregando um produto gaseificado de uma multi-nacional qualquer, enquanto que, com a outra, aproveitam para cumprir um dos poucos rituais sagrados ainda existentes na sociedade ocidental do séc. XXI, roer activamente um chocolate devidamente rotulado como saboroso, e que foi, momentos antes da sua manufacturação, previamente celebrizado num comercial qualquer enquanto produto divinalmente desenvolvido para causar prazer nas mais diversas, merecedoras e, não tão arbitrárias papilas gustativas, quanto isso.


Pensar pode moer. Pensar pode consumir-nos a alma. Pensar mói no estômago do tempo os restos mais abafados do silêncio.


Um dia destes, quem sabe, talvez ainda vá ao cinema. Talvez, também eu por lá coma um chocolate embalado por uma máquina qualquer, ou acabe por ser engolido por um pacote "king size" de pipocas enquanto olho para uma tela que, ainda sem tanto sabor como o chocolate ou tanto volume como as gigantescas pipocas, me faça abstrair do triste, pesado e ingrato fantasma que é pensar.


Ou talvez não faça nada. Talvez fique apenas imóvel. Paralisado na morgue que é o espaço entre a psique e o organismo. Contaminado pela praga de ser um “Zé-ninguém” em mim mesmo, e ser covarde demais para o contestar…