Não sei quem sou. Talvez seja apenas isso, alguém que tenta saber quem é. Talvez seja pessoa entre isso. Um ser com algo mais do que um mero nome. Um vulto com mais certezas. Eu.
Ou talvez nunca venha a ser ninguém. Sempre me disseram que o mundo era um lugar complexo, completo-o:
- «É um labirinto quando, para além de termos de viver como uma peça de um puzzle demasiadamente abstracto para ser humanamente possível montar, não sabemos o que somos, nem que posição ocupamos nesse mesmo puzzle».
Não sei quem sou. Talvez o sentido esteja no incógnito dessa ignorância. Um sentido às voltas de coisa nenhuma. Um dos que só é porque não pára. Sim, porque ele não pode parar. Sem si, não haveria ignorância, sem ignorância o incógnito perder-se-ia revelando quem sou, e, em vez de ser apenas um ser que se desconhece, talvez as coisas pudessem ficar verdadeiramente negras quando, para além de descobrir quem era, pudesse ficar a saber que não era mais do que uma alma triste.
Há coisas complexas, como o mundo, dizia alguém que já não me lembro quem fosse. Apetece-me fingir que sei quem sou...
Às vezes apetece-me mandar o mundo à merda. Não de um jeito qualquer. Educadamente. Assim não poderiam, se quisessem, ofender as minhas origens. Às vezes apetece-me mandar o mundo, acompanhadamente à merda. Afligia-me se ele fosse sozinho…
Abstracção. Tentem respirar, algures entre uma atmosfera imunda, uma partícula de oxigénio purificada. Ainda que não saibam qual, saberão sempre que uma das porções de ar está inquinada.
Insanidade. Tentem ensinar uma sarjeta. Impossível. Todas elas acolhem, sem selecção, toda a espécie de muco. De fezes… Gosto de fezes. Especialmente das enroladas. Lembram-me espirais. Linhas contínuas e arbitrariamente encurvadas, que se mostram como são, e vivem para sempre sem artificialidade.
Reformulo. Às vezes apetece-me mandar, acompanhadamente, o mundo para um lugar mais feio do que fezes. [Fezes podem ser obras de arte originais, pessoas não.] E de mandar essas pessoas para um sítio sem ar, esse metâmero precioso e que, perigosamente, permite emancipar distinção.
Às vezes mando-as para esse lugar. Olho-as e falo-lhes, sem que estas se apercebam. Sorriem-me frequentemente quando o faço. Eu também. Estúpidas, elas fazem-no sem saberem porquê. Lúcido, aproveito para economizar raciocínios. Pois sei, no fim de contas, que elas não sabem o motivo pelo qual me ri-o da cara delas, ou se me ri-o efectivamente delas. E no fim, ainda pensam que sou um tipo simpático.
Nem todos os tipos que nos riem sem motivo são simpáticos. Ou são estúpidos, porque não sabem do que riem, ou, e para lá do seu riso vulgar, comummente entendido também por simpatia quando a sua origem não consegue ser fielmente explicada, são anónimos comediantes que, confortavelmente sentados no cadeirão metafórico do seu silêncio, servem a plateia voraz que jaz sedenta de escárnio, dentro deles.
Às vezes apetece-me mandar o mundo para uma prisão. Mas quase sempre, sou eu quem acaba preso. Não numa prisão, que isso seria poder demais, mas antes a uma vontade [apenas]. [Falácia]. Enquanto houver vontade, jamais um [apenas] será depauperado quando, para além de estar cravado à sua primitiva forma de advérbio, for, como neste caso, reaproveitado para englobar uma cinemática forma de prestar adjectivação a um substantivo. Se assim fosse, seria uma tragédia, e, sinal que o meu desejo fora cumprido igualmente. Não é que essa tragédia fosse algo pejorativo para mim, mas seria, segundo os Rogerianos, humanamente injusto para o resto…
Muito bem, fiquei convencido. Talvez deva reunir esforços no sentido de controlar os meus impulsos pois, e, no fim de contas, ainda há instantes cheguei à conclusão que todos eles, são actos que nos empobrecem.
António Esperança sempre tivera azar nas relações, era vulgar acabar por sair corno delas. Ou porque era demasiadamente calado, ou demasiadamente falador, ou demasiadamente bonito, ou demasiadamente carinhoso…
Havia sempre um “ou” que assemelhava uma parceira antiga a outra e, uma razão presente, em todas as suas relações, que o acabava por transformar num namorado incapaz. Uma vez, uma delas chegou mesmo a proferir que ele era demasiadamente perfeito.
Para António aquilo soava sempre a algo disparatado. Uma mulher acabar uma relação porque o namorado é incorrigivelmente perfeito? Nunca lhe passaria pela cabeça…
Motivos bem mais fundamentados, teria ele, se quisesse acabar com algumas delas. As flatulências nauseantes de Diana, os arrotos descontextualizados de Dalila, os sovacos florestados de Teresa…
Uma vez, chegou mesmo perto do vómito, quando deu entrada na casa de banho, aflito para urinar. Depois de abrir o tampão da sanita, a visão caótica e assustadora de um cagalhão desfragmentado, boiando à superfície de um oceano castanho. Por mais que tentasse mudar as atitudes emporcalhadas de Paula, ela sempre o surpreendia com algo ainda mais criativo e de uma nojice avassaladora.
Mas não foi ela a mais extravagante. António Esperança jamais esquecerá o chulé de Cassandra. Tinha aquele estranho hábito de comer descalça ainda por cima. Talvez por isso ele tenha comido fora tantas vezes durante o período que durou aquela relação, mais vezes do que em qualquer outra fase da sua vida.
Além disso, Cassandra era detentora do hálito mais horrendo. Por vezes, duas singelas letras proferidas pela manhã, um breve “oi”, eram o suficiente para deixá-lo desconcertado o resto do dia. Não durou muito tempo com ela, é certo, mas enquanto durou foi um pavor. Foi das poucas que o deixou feliz quando o confrontou com a ideia de que uma relação entre ambos já não faria sentido.
Não há mais tento no que tento, do que o tento sem causa desse tento. Padeço. O amor é mesmo uma coisa desfalecida. A frustração, uma lâmina que divide a consciência em duas partes, a insensata e a esquecida. Afinal, o mundo é sempre igual. Não há mais dizer no que digo, do que o que digo sem causa desse dizer. Perco-me. A vida é perpetuamente sólida. Os seus intervalos, líquidos que se condensam e que retornam apenas quando querem. Afinal o arbítrio é sede do incógnito.
As pessoas são todas iguais. São como pontos finais que encerram frases de um livro interminável. De um livro sem histórias dentro da História. De um livro sem capa ou folhas, de um livro apenas. Aquele que se escreve num encéfalo que o destrói progressivamente, à medida que o tempo passa. Um livro sem tempo, ou tento, ou dizer. Um dos que se perdem após um primeiro copo, copo que nunca é só o primeiro. Um dos muitos livros que fingimos existirem.
Às vezes apetece-me estar calado. O silêncio pode ser, em inúmeras ocasiões, o sofrimento dos pobres. Às vezes apetece-me estar calado em mim mesmo. Deixar que a ignorância me tome, só para sentir que sou alguém interessante. Só para me esquecer dos pontos finais, das histórias minúsculas ou maiúsculas, dos livros que não existem. Para me esquecer que a razão é um castigo, que o silêncio é um cretino e, a frustração, uma realidade que não posso deturpar…
Tenho coisas na cabeça, Tenho a cabeça vazia. Milhares de cópias que se Propagam, demolindo Minha razão. Num plágio inocente E culpado, Desejado e repulsivo, Consciente e involuntário. E de entre o que está E que eu sei que não sei Ao certo que seja, Está um louco que sou eu Ou uma cópia de um Outro louco parecido Que não se assume. Conversa sozinho. Não sei o que diz ou, Finjo não saber. Afinal o que ele fala Pode ser igual ao que eu digo E, o louco, já não seria Algo mais do que um Ser sem sentido. Tenho coisas na cabeça, Tenho a cabeça vazia. E enquanto caminho confuso Sou um ser que não eu Nem louco, nem outra Coisa senão esta coisa vazia…
Vou dormir. Talvez seja melhor que carimbar palavras que entristecem à medida em que lhes acrescento mais uma letra.
Vou dormir. Talvez seja a coisa mais poética neste momento.
Vou dormir. Talvez amanhã, quem sabe, acorde mais lúcido.
Vou dormir e, nesse enquanto, pintar os sonhos com esperança. Mesmo que amanhã não me lembre dos sonhos ou a esperança seja derrotada antes do final de outro dia.
Vou dormir. Porque hoje, essa é a minha única certeza…
E meio a medo, ela olhou-me nos olhos e perguntou-me: «O que é o amor?»
«Céus…», pensei. De todas as perguntas possíveis ela escolhera talvez a mais complicada. O que é o amor… Fiz uma regressão naquele momento, memórias enchiam-me por dentro enquanto que, surpreso por fora, o meu corpo não conseguia reagir tão imediatamente quanto fora a convicção daquela pergunta.
«O que é o amor…» Eu queria ser sincero, mas para a genuinidade da minha resposta ganhar forma teria de me conseguir desprender da profunda tristeza que nascera comigo e me acompanhara ao longo de toda a vida, acentuando-se em etapas onde realmente fazia todo o sentido que essa agonia se estendesse através da minha figura.
«O que é o amor…» Quando amámos demasiadas pessoas torna-se um sentimento perturbador, um conceito vulgarizado pela nossa necessidade de atenuar a dor que as separações nos causam.
«O que é o amor…»
Há muito que não falava disso com alguém e, estar diante daqueles jovens, puros e ternos olhos azuis, falando de um sentimento que para mim sempre fora tão fúnebre, era como estar envolto numa estranha nudez, trauteando mágoas a alguém que por não ser eu, me fazia sentir esquisito. Mas enchi-me de coragem, olhei os seus olhos de oceano interminável e respondi.
«Talvez sejam três, as formas de amor… Uma primeira, quando desconhecemos a pessoa e apenas cedemos à química que se abate sobre dois seres humanos que decidiram comunicar. Uma segunda, que é quando ainda sentimos momentos semelhantes ao dessa primeira vez mas ficamos menos tolerantes perante os instantes em que as dúvidas, a rotina ou os conflitos entorpecem essa química e, uma última, talvez a mais sentida das formas de amar, que é quando compreendemos finalmente que deveríamos ter abraçado sempre essa química e não deixá-la escapar aos poucos, até ficarmos sós e a pensar nas coisas boas que vivemos ao lado da pessoa que amámos.»
Por momentos, pensei que os seus olhos eram mesmo o oceano. Por momentos nada mais se ouviu senão o barulho do seu leve coração, estilhaçava-se dentro do seu peito. Por momentos, eu soube que alguém me amava.
Pouco depois, ela afastou-se. Nada disse. Apenas se foi embora, como uma onda que nos cumprimenta brevemente e regressa sem retorno ao infinito de onde pertence…
Sinto-me frágil. Não é fácil escrevermos quando estamos frágeis. Apenas o eco das tuas palavras na minha cabeça. Apenas a ressonância que te neguei naquele cerrado mês de Agosto, quando pensando que já te tinha esquecido, me fizeste perder novamente de mim com as tuas dúvidas ternas e a tua confiança acutilante.
Estavas sentada numa cadeira, olhando-me nos olhos e te distanciando deles. Num estar de corpo presente, num estar de querer somente confirmar quem de nós dois era o mais confiante. Talvez fosses tu. Talvez sejas sempre. Sempre pequei por pensar em demasia…
«Ouvi dizer que os escritores passam por um período difícil quando sofrem por amor», disseste, em tons do que me pareceu ser orgulho.
«Não sei… Mentiria se não te dissesse que tive um pequeno bloqueio após nos separarmos, mas foi efémero e saudável pois catapultou-me para outra realidade, ajudando-me a construir coisas novas e diferentes.» Respondi, completamente ciente de que nada daquilo era verdade, uma verdade que só era tangível na profundidade de mim mesmo, onde a mente perde o controlo dos sentidos e a apatia nos engole a alma.
Sim, os escritores ficam paralisados quando sofrem por amor. E ficam amedrontados pelo futuro enquanto aguardam sem vontade por ele, escondidos num lugar onde o mundo se esvai em cinzas antes do fogo ter mostrado a sua ira. Sim, os escritores revivem o passado, dentro de si próprios, de hora a hora, cronometrados por um relógio cruel chamado de saudade. Sim, eles sofrem e choram o seu sofrimento. Eles camuflam-se na escuridão da noite, fiéis à convicção de que desse modo, a sua tristeza não será vista.
Eles passam por aquilo a que tu chamaste de "período difícil" e que eu, como escritor do meu próprio destino, não tive a bravura necessária para o admitir…
terça-feira, 1 de setembro de 2009
Conto os dias, São pêndulos De cristal quebrando Em noites paradas E sombrias.
A lua Pressiona-me os ombros. As árvores Mandam-me embora, Num cessar de folhas Velhas e feias. O chão Gela-me o corpo Com a ajuda do vento.
Conto os dias, São palavras sem letras, Sangue sem feridas, Frases sem ti.
E no céu (Porque não há para Onde mais olhar Em noites onde contabilizamos dias), Descubro as nuvens. E antes que a lua desabe sobre mim, Que as árvores fiquem nuas ou, Que o clima me devore Os restos, Liberto-as transparentes dos meus olhos.
Conto os dias, Talvez um dia os deixe de contar… Quem sabe, num dia Em que a lua me convide a voar Para um sitio onde raízes Se transformem Em árvores imortais, Auxiliadas pelo brilho do Sol e a força do vento E, onde o tempo, me aqueça Esta permanente criança Que é o coração…
É o demónio Quem nos provoca E nos insiste em colocar Num frente a frente Que é cegueira e ódio E jogo de saliva Desmedida e invisível.
Negas-me o toque Com um desvio Inevitável como A incapacidade De me apagares Mentalmente. A mentira, é tua. A sua sombra, Uma garantia Para mim, De que ainda Não partiste. De que ainda não Te esqueceste da Espiral controvérsia Ateada em noites De um silêncio Interrompido pelo Barulho dos nossos Corpos cruzando Dor com prazer.
É o demónio Quem me provoca E nos insiste em colocar Num pesadelo que é sonho De engano e verdade De uma ilusão levada Pelo vento de um caos Chamado de pensamento. Sim, É ele Quem escreve Esta união deturpada Nas nossas cabeças E se diverte Obrigando-nos A descodificá-la.
É ele quem nos mutila Nas horas mortas, Enchendo-nos de Lembranças imorais. E que nos tenta, Ao cair de cada noite Solitária, com A sua tirana Vontade de nos Voltar a ver Insanos, Ordinários E descontroladamente Inteiros…
O meu coração é um jardim Onde rosas choram lágrimas De vidro que ferem espinhos.
A minha mente, uma cratera Onde o vento impera Cantando na solidão De uma destruição concretizada.
E todo o meu corpo É como prata fundida, Reflectindo o céu.
Sento-me, Inclino-me E deixo que a Minha sombra Se espalhe pelo chão De um campo de Cravos negros.
Clamo. Não sei porquê, Não sei de quê. Talvez apenas Porque o que me consome Por dentro queira sair. Porque o que me fere, Deseje acabar de arder Em território neutro.
Porque o meu coração foi um jardim Onde rosas se protegiam Das lágrimas, com espinhos.
A minha mente, Um bloco de conhecimento Estruturado por camadas Maciças de certeza.
E todo o meu corpo Foi como ouro sólido, Reflectindo com vaidade O seu brilho.
Não me consigo exprimir.
A fogueira adormece. Os cravos confundem-se Na escuridão da noite. A sombra abandona-me E o grito desaparece Ao longe, com o vulto Que sou…
É noite, É tarde. As luzes da rua Iluminam-me, Trazem a certeza Das horas nos olhos E o esplendor da solidão Nas pernas.
É noite E está tarde, Talvez também para ela Que oscila entre A luz dos candeeiros Inglórios da cidade E a escuridão das Suas ruas despistadas.
Se tivesse um caderno Possuía-a por trás Ali mesmo.
Mas o caderno não veio, A poesia não verte e, Só porque é noite E está tarde, A razão sem verdade Deste encontro Rumará efémera Comigo até casa, Onde estendida Sobre os lençóis da cama, Sairá derrotada Quando, no clímax Da sua covardia, Remoer na sombra Do que poderia ter sido Uma noite interessante…
segunda-feira, 22 de junho de 2009
Mostra-me, Satisfaz-me. Quero sentir O cheiro E a humidade Do teu sigilo. O não poder Excita-me, Num jogo impudico Onde tu sais Sempre a ganhar… Danças... Com as mãos Acaricias os seios E com as ancas Projectas erotismo. Aproximas-te, Ensaboando Teu traje menor Entre pernas. Amordaças-me Com ele. Sou o maníaco Sem nome Da cadeira De madeira. Aquele que se Preenche com Aromas impróprios De uma serventia perversa. Delicio-me com As tuas cuecas, Fazem-me cócegas No céu da boca. Apagas o que resta Da realidade Enclausurando Com a boca Toda a minha virilidade. Possessa. Estás possessa… Saltas-lhe para cima Num soar de uivos Mais audíveis do que os De uma alcateia faminta.
E fazes de mim Um baloiço Que te açoita a Ânsia. Oscilas como Se a noite acabasse Antes do término Do teu fôlego. Nas costas Sinto o escorrer Do sangue. São feridas reabertas Pelas tuas garras E sinónimo do prazer Que te aplico. Nunca sararam. Nunca irão sarar. Talvez no inferno Queimem… Num fogo que Deixará os nossos Corpos negros. Num lugar Onde nos alimentaremos Um do outro, Sem almas Ou inteligência Ou foices de Vozes alheias Que lhes saqueiem O apetite.
Curta Metragem no ambito da disciplina de Escrita Audiovisual do curso Comunicação Social e Educação Multimédia 1ºAno Pós-Laboral, Leiria.
quinta-feira, 4 de junho de 2009
Sopros de abandono.
Frívolos, reais, vulgares.
Sagacidades inóspitas
Num leito voraz, atroz, uno…
Desaguam no silêncio de
um tornado abandonado
Vozes berrantes de uma
certeza incerta.
Uma ferida aberta
que sangra fechada
debaixo da capa de um livro.
Um assunto abafado
por sombras de uma agonia
estranha de si própria.
Cordas que me atam,
mordazes como um relâmpago
inócuo que abafa a história
de uma árvore, impedindo-a de
envelhecer na solidão de um campo usado.
Perco-me num indecoroso galopar
De desprovidas displicências.
Na cicatriz que me dói
Pela saudade de nada sentir.
De esconder sem entender os
Erros calculistas de uma infrutífera rédea
pousada no dorso da vida, que me repara
Sem que eu a veja.
Queimo o meu corpo
no vazio da tua ausência
só para ver o oxigénio
Lutar como eu luto,
Coabitar como eu habito,
E esgotando-se como se dilacera
uma mácula vestida de rudimentares rostos
remanescentes em resquícios rudes.
Oh ninfa de um cosmos
para lá do verosimilhante!
Mostrai-me os coriscos
da bem-aventurança,
Extinga todos os redundantes
enganos da semelhança
E não sejais ímpar e
transparentemente pleonástica,
No cognome do ortónimo existencial,
Que é a Vida.
Pedro Rodrigues em parceria com Diogo Rodrigues.
sexta-feira, 8 de maio de 2009
Trazes uma pergunta Na boca e na boca Uma pergunta de resposta. Falando do que não sabes Pensas que sabes algo Num sobe que desce Para o lado e Perdes-te no meio De nenhuma parte. Se não dissesses nada Talvez tudo fosse Mais simples, De um possivelmente Calmo e sereno momento Vencido pela comodidade. Continua falando, Pois no meio do teu erro Talvez até tenhas razão…
Estou de estar, Apenas entre O que sei estar. Bebo metade de um café E fumo meio cigarro Na meação de uma esplanada. Abro o jornal. Vejo texto Ou vejo imagem. Fecho-o, Também não estava inteiro. Olho para lado nenhum Certo de que olho para algum lado. Penso só para enganar o pensamento. E tudo tem uma razão Na fracção da minha pessoa. Se não tivesse talvez Eu fosse inteiro. E a pessoa verdadeira E o seu redor uma certeza E essa certeza uma inutilidade…
Narro na penúria De uma dúvida eterna Letras de um círculo Sem interior. Uma folha em branco. Enforco-me em concepções. O que é o amor? Acendo mais um cigarro, Enquanto me nauseio À janela. As noites são sempre iguais Na minha janela. Na nossa janela… Reflexos escurecidos Dos mesmos dias banais, Esquecidos pela cegueira Da ilusão temporal. Assomo-me à varanda. Vomito da mesma rotina, Escorregando no tédio Do meu nojo. Levanto-me. Afinal hoje até foi diferente…
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
Entrei. Agarrei-te e consumi-te. Deixas-te. Hoje, Amanhã, Sempre. Porque sabes Que a cada vez que me vou, Mais de ti fico. Porque sabes que Não sou de mais ninguém Senão não do meu egoísmo. Porque sabes que sou Quem sou, Que não finjo… A tua consciência de mim Afasta-te de quem és. Escravizo-te. Permites… A tua insegurança Vende-te. Compro-te com A minha certeza. Não te quero amar. Não te vou amar. Dás-te… Cuspindo em mim O fogo da tua carne. Queimando com os olhos A exactidão da minha ausência. Cobrindo com o corpo A voz da única verdade. Dás-te… Enrolas-te no vazio Da minha forma. Gemes no silêncio Da tua fantasia. Arruínas-te, no centro Do teu masoquismo. Amas-me. Porque a minha rejeição Te confunde. Porque a minha presença Te preenche. Porque a minha superioridade Te atinge. Enlouqueces. Porque sabes, afinal, Que jamais serei de ti…
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
E se pudesses traduzir O que a tua alma fala? Sem pudor… Sem gestos… Apenas deixando sair a sensação Através das letras… Se te pudesses escrever… Contar a todos quem Realmente és… Achas que te compreendiam Melhor do que até onde Alcançam no teu olhar?... Não podes? Não queres? Não consegues?... E se eu te dissesse Que poderia ser as tuas mãos? Que nem sempre temos De ser perfeitos… Que não precisamos de Abrigar todas as capacidades Para sermos derradeiros vencedores… No fim de contas, E se assim fosse, Não precisaríamos de amor… E se eu te disser que te quero saber? Que trago em mim a vontade De te gritar ao Universo… Que te amo!... Achas que desse modo Partilharias um pouco Do teu espaço? E se te dissesse que já te sei… Que te soube nas primeiras Palavras que trocámos, Nos primeiros olhares que fizemos, Nos primeiros pensamentos que construímos… Será que mesmo assim arriscarias?... Sinto-te um sim maior Do que o infinito… Afinal, Nunca chegámos a juntar os lábios Para cumprir a chama de todo o nosso desejo…
domingo, 11 de janeiro de 2009
Diminuto. Elevei-me tão alto quanto a minha loucura Para respirar o vento anónimo Da tua presença. E girei… Numa realidade Sem conclusão. Dissolvendo o meu coração Em verdade de dor Só para sentir o sabor Do teu saber. Imprudente. Lúcido. Apaixonado. Fiz das nuvens o nosso lençol E lá, nos amámos. Iluminados por um sol Apenas de nós. Num sítio onde as possibilidades Se enraizavam no céu E as dúvidas se perdiam Nas asas de uma gaivota. Agarrei-te a mão. Amedrontaste-te. Olhei de frente o escuro De todo o Universo E prossegui. Foi quando soube, Ao redor de uma ânsia Para te contemplar, Que não te senti. Remexi as estrelas, Roguei pragas Em todos os campos gravitacionais. Nada de ti ou quaisquer sinais. Inconformado, percorri galáxias E vasculhei cometas. Revistei asteróides E procurei-te em milhões De planetas. Nada… Fracassara, Perdera-te! Foi quando em mim surgiu Toda uma força que gritara: - O que é o amor, afinal?! Não apareceste. Nunca mais apareceste. Mas eu quero acreditar… Acreditar que um dia o eco Retorne, revelando O local onde te escondes.
Suo… Inspiro e expiro novamente. Flutuo… No pecado da minha mente. Grito. Esmurro. Serpenteio pelas mortalhas Da minha cama. Aflito. Apresso-me… Depuro, Todo o meu inconsciente acordando. Suspiro. Rebolo. Adormeço. E desse modo venço, Num lugar onde sou a lei…
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Dos sonhos lavrados ao longo do tempo,
Levaram-me quase todos , os homens de toga.
Lentamente mos levaram, um a um, e aos poucos me calei.
E, contud...
INSULTA-ME O PANO VERMELHO
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*INSULTA-ME O PANO VERMELHO*
Insulta-me o pano vermelho. Não pude
deixar de transitar de mercadoria em mercadoria.
Sou uma moeda voando no ...
Espelho
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respeito
quem conversa
com olhos ausentes
são olhos que circulam ou
se fixam em horizonte invisível
como se de lá viessem as palavras
mas a conversa se pr...
Carlos Bessa
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story board
Começa com o dia a *story board*
de sair de casa, chegar ao emprego,
ir depois comer qualquer coisa. A vida
toda entregue ao mercado negro...
De Tempos a Tempos o Tempo
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É pela calada da noite que as minhas lembranças tocam mais depressa o meu
coração. No momento em que escrevo não sei que horas são mas sei que passa
muito...
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Dimensões VII - Lá onde o mar é azul
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Sigo para lá
invento um novo tempo
O além é o meu refúgio
Lá, onde o mar é azul
e as ondas são verdes
Lá, onde tudo se comove
aos meus olhos cor de prata...
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Há perdas grandes demais para se explicarem por palavras. Hoje e sempre,
ficarão as memórias. Viverás sempre no meu coração. Obrigado. Foi um
privilégio ...
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Documentário completo mostrando a origem, formas de actuação e objectivos
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Piedade Para Brasas e Peles
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Ele repousa o charuto na beirada da mesa de cabeceira,
Antes havia entreaberto a boca
E cuspido um cogumelo de fumaça,
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pensou que sentando-se só iria ver meias cores - de tudo o que lhe
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Alzinda Reis encontrava-se na sala de espera do hospital. Apesar dos seus
50 anos, exibia uma frescura característica de 30. O cabeleireiro era a sua
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nocturna.
Adoro a magia de luz e cor que esta paisagem proporciona, com o mar como
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Bailairina-Themis
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Dias existem em que não sei escrever e em que gostaria de saber
desenhar...Muitos dos quais são passados frente ao computador, esse
infernal apêndice ......
Eterno
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Não precisamos de muita coisa
Queremos só um pouco do muito
Um pequeno minuto de intensidade
Que transformamos numa vida inteira
...
E juntos, somos c...
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sempre um bocadinho. Apercebe-se que ninguém à sua volta sorriu. Sente-se
feliz por n...
Cinzeiro.
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ficam parados para a eternidade.
na confusão de não entender nasce a fome da curiosid...
Apresentação de "Amar em Círculo", de Isa Mestre
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A apresentação do meu romance, *Amar em Círculo*, será dia *8 de Julho *(próxima
sexta-feira) na Biblioteca Municipal de Faro, pelas *18h00. *A apresentaçã...
PAIXÃO EM SI
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Apaixonei-me por ti. Não me apaixonei por ti, apaixonei-me pela imagem que
tenho de ti. Apaixonei-me por ti. Não me apaixonei por ti, apaixonei-me
pela v...
Doce Marilusa
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Marilusa acostumou-se com a lentidão dos dias, e jogava-se taciturna como
jogam flores mortas ao mar. Completamente entregue, flutuava inerte perante
as on...
Nobel da paz para Massimo Tartaglia...
-
... que foi o homem que teve tomates (e não aqueles que falou Berlusconi)
para partir o focinho ao Berlusconi. Não agarrou o touro pelos cornos, mas
parti...
Pffffff!
-
Criar Blogue, ver blogue, editar perfil, gestão de blogues, editar isto,
publicar aquilo.........aaaaaahhhhhh!
Um belo começo aqui no blogue, não percebo ...
à aventura
-
retiro-me de mim em parto inverso
num leito de mistos sentimentos
crescem raízes nos jardins da infância
palmilhando chão longo de saudades
teço-me agasalh...