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segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Vou dormir.


Vou dormir. Talvez seja melhor que carimbar palavras que entristecem à medida em que lhes acrescento mais uma letra.

Vou dormir. Talvez seja a coisa mais poética neste momento.

Vou dormir. Talvez amanhã, quem sabe, acorde mais lúcido.

Vou dormir e, nesse enquanto, pintar os sonhos com esperança. Mesmo que amanhã não me lembre dos sonhos ou a esperança seja derrotada antes do final de outro dia.

Vou dormir. Porque hoje, essa é a minha única certeza…

domingo, 13 de setembro de 2009

Uma onda sem retorno.


E meio a medo, ela olhou-me nos olhos e perguntou-me: «O que é o amor?»

«Céus…», pensei. De todas as perguntas possíveis ela escolhera talvez a mais complicada. O que é o amor… Fiz uma regressão naquele momento, memórias enchiam-me por dentro enquanto que, surpreso por fora, o meu corpo não conseguia reagir tão imediatamente quanto fora a convicção daquela pergunta.

«O que é o amor…» Eu queria ser sincero, mas para a genuinidade da minha resposta ganhar forma teria de me conseguir desprender da profunda tristeza que nascera comigo e me acompanhara ao longo de toda a vida, acentuando-se em etapas onde realmente fazia todo o sentido que essa agonia se estendesse através da minha figura.

«O que é o amor…» Quando amámos demasiadas pessoas torna-se um sentimento perturbador, um conceito vulgarizado pela nossa necessidade de atenuar a dor que as separações nos causam.

«O que é o amor…»

Há muito que não falava disso com alguém e, estar diante daqueles jovens, puros e ternos olhos azuis, falando de um sentimento que para mim sempre fora tão fúnebre, era como estar envolto numa estranha nudez, trauteando mágoas a alguém que por não ser eu, me fazia sentir esquisito. Mas enchi-me de coragem, olhei os seus olhos de oceano interminável e respondi.

«Talvez sejam três, as formas de amor… Uma primeira, quando desconhecemos a pessoa e apenas cedemos à química que se abate sobre dois seres humanos que decidiram comunicar. Uma segunda, que é quando ainda sentimos momentos semelhantes ao dessa primeira vez mas ficamos menos tolerantes perante os instantes em que as dúvidas, a rotina ou os conflitos entorpecem essa química e, uma última, talvez a mais sentida das formas de amar, que é quando compreendemos finalmente que deveríamos ter abraçado sempre essa química e não deixá-la escapar aos poucos, até ficarmos sós e a pensar nas coisas boas que vivemos ao lado da pessoa que amámos.»

Por momentos, pensei que os seus olhos eram mesmo o oceano. Por momentos nada mais se ouviu senão o barulho do seu leve coração, estilhaçava-se dentro do seu peito. Por momentos, eu soube que alguém me amava.

Pouco depois, ela afastou-se. Nada disse. Apenas se foi embora, como uma onda que nos cumprimenta brevemente e regressa sem retorno ao infinito de onde pertence…



segunda-feira, 7 de setembro de 2009

O último encontro.


Sinto-me frágil. Não é fácil escrevermos quando estamos frágeis. Apenas o eco das tuas palavras na minha cabeça. Apenas a ressonância que te neguei naquele cerrado mês de Agosto, quando pensando que já te tinha esquecido, me fizeste perder novamente de mim com as tuas dúvidas ternas e a tua confiança acutilante.


Estavas sentada numa cadeira, olhando-me nos olhos e te distanciando deles. Num estar de corpo presente, num estar de querer somente confirmar quem de nós dois era o mais confiante. Talvez fosses tu. Talvez sejas sempre. Sempre pequei por pensar em demasia…

«Ouvi dizer que os escritores passam por um período difícil quando sofrem por amor», disseste, em tons do que me pareceu ser orgulho.


«Não sei… Mentiria se não te dissesse que tive um pequeno bloqueio após nos separarmos, mas foi efémero e saudável pois catapultou-me para outra realidade, ajudando-me a construir coisas novas e diferentes.» Respondi, completamente ciente de que nada daquilo era verdade, uma verdade que só era tangível na profundidade de mim mesmo, onde a mente perde o controlo dos sentidos e a apatia nos engole a alma.


Sim, os escritores ficam paralisados quando sofrem por amor. E ficam amedrontados pelo futuro enquanto aguardam sem vontade por ele, escondidos num lugar onde o mundo se esvai em cinzas antes do fogo ter mostrado a sua ira. Sim, os escritores revivem o passado, dentro de si próprios, de hora a hora, cronometrados por um relógio cruel chamado de saudade. Sim, eles sofrem e choram o seu sofrimento. Eles camuflam-se na escuridão da noite, fiéis à convicção de que desse modo, a sua tristeza não será vista.


Eles passam por aquilo a que tu chamaste de "período difícil" e que eu, como escritor do meu próprio destino, não tive a bravura necessária para o admitir…

terça-feira, 1 de setembro de 2009


Conto os dias,
São pêndulos
De cristal quebrando
Em noites paradas
E sombrias.

A lua
Pressiona-me os ombros.
As árvores
Mandam-me embora,
Num cessar de folhas
Velhas e feias.
O chão
Gela-me o corpo
Com a ajuda do vento.

Conto os dias,
São palavras sem letras,
Sangue sem feridas,
Frases sem ti.

E no céu
(Porque não há para
Onde mais olhar
Em noites onde contabilizamos dias),
Descubro as nuvens.
E antes que a lua desabe sobre mim,
Que as árvores fiquem nuas ou,
Que o clima me devore
Os restos,
Liberto-as transparentes dos meus olhos.

Conto os dias,
Talvez um dia os deixe de contar…
Quem sabe, num dia
Em que a lua me convide a voar
Para um sitio onde raízes
Se transformem
Em árvores imortais,
Auxiliadas pelo brilho do
Sol e a força do vento
E, onde o tempo, me aqueça
Esta permanente criança
Que é o coração…