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sábado, 28 de abril de 2012

A partícula e o vácuo.




Soltem as amarras, que o navio vai partir.



Esta é a história de uma tal partícula que se destruiu entre o vácuo do silêncio. E é uma outra história também, a desse vácuo que através do silêncio nunca conseguiu ser mais nada senão isso mesmo, absolutamente coisa nenhuma.



E não há muito para contar. De facto, dizer muito pouco, ou até mesmo quase nada é a melhor maneira de contar tudo. Essa partícula somos todos, milhares ou milhões de nós na verdade, à deriva neste oceano que os Deuses, alheios a esta estranha forma de existir carnal, designaram outrora por vida, este vácuo que nos ofende os sentidos até os silenciar para sempre.



- Vendo a alma, 5€ quem compra? Repetia freneticamente um homem sentado na berma de uma sarjeta. (Digo berma para a sarjeta não parecer tão feia).



- Já começaram os saldos?! Questionou um outro senhor, espantado ao ouvir a oferta.



- Não. Respondeu o vendedor que era naquele momento também um espontâneo Presidente dos Esgotos. Apenas preciso de comprar mais um maço de cigarros, sem trabalho todas as boas oportunidades são boas,  e o preço é bom ó freguês. Reduzir mais era aniquilar o resto miserável de uma pequena vontade que por aqui anda. Há meses que desespero também por um café, se comprar dos de enrolar pode ser que dê para matar o bihinho da cafeína.



Ali ao fundo, foi naquela rua filho, sentado sem vergonha alguma que um dia um homem vendeu  a sua alma para comprar o seu último momento de felicidade.



E depois pai? E depois?...



Depois veio a liberdade.



Ai veio? Como pai?



O homem morreu engasgado com um torrão de açucar enquanto dava o último gole no seu café. Mas foi um momento mágico Xavier, quando a história se soube virou arte, e quando virou arte, não demorou nada até que um pseudo artista, de nome, não sei de quê qualquer, se lembrasse de motivar outras partículas a seguir o mesmo rumo, muitas na realidade, transformando aquele momento, através do simples recurso às palavras, num verdadeiro acto de empreendimento de sucesso por parte de um português. Mas até se compreende filho, aquele senhor tinha um projecto e atingiu o seu grande objectivo. Vê lá tu filho que até a a segurança social emitiu ordem para a contrução de uma lápide de agradecimento por o tal senhor ter ido mais depressa do que o que devia.



Consta-se que lá dizia:



“Aqui jaz Teodósio Manjerico, figura de negócios influente, e figura pública de maior importância ainda. Pelo seu acto de lucidez humana de abdicar de uma reforma de que estava quase a usufruir os  os nossos mais profundos agradecimentos, pois não tinhamos meios para lhe pagar.”