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domingo, 3 de janeiro de 2010

Às vezes, pensar que não gosto de pensar no mundo, revela-se algo extraordinariamente sensual perante a minha percepção. É, sobretudo, em momentos como esses que tenho a certeza que não sou bom nem mau tipo. Que não sou uma mente genialmente configurada de um jeito alternativo, ou, parte numérica de uma quantificação de massas estupidificada, uma um pouco mais extensa do que aquelas que se podem encontrar vulgarmente sentadas, de jeito confortável, diante de uma tela gigantesca e que, como forma de atenuarem os seus espasmos nervosos, provocados na sua essência, por montagens electrizantes de efeitos visuais psicadélicos e sons não menos irritantes, se munem, todas contentes e atomizadas, que é como quem diz, de modo néscio e singular, sempre da mesma forma; Numa das mãos carregando um produto gaseificado de uma multi-nacional qualquer, enquanto que, com a outra, aproveitam para cumprir um dos poucos rituais sagrados ainda existentes na sociedade ocidental do séc. XXI, roer activamente um chocolate devidamente rotulado como saboroso, e que foi, momentos antes da sua manufacturação, previamente celebrizado num comercial qualquer enquanto produto divinalmente desenvolvido para causar prazer nas mais diversas, merecedoras e, não tão arbitrárias papilas gustativas, quanto isso.


Pensar pode moer. Pensar pode consumir-nos a alma. Pensar mói no estômago do tempo os restos mais abafados do silêncio.


Um dia destes, quem sabe, talvez ainda vá ao cinema. Talvez, também eu por lá coma um chocolate embalado por uma máquina qualquer, ou acabe por ser engolido por um pacote "king size" de pipocas enquanto olho para uma tela que, ainda sem tanto sabor como o chocolate ou tanto volume como as gigantescas pipocas, me faça abstrair do triste, pesado e ingrato fantasma que é pensar.


Ou talvez não faça nada. Talvez fique apenas imóvel. Paralisado na morgue que é o espaço entre a psique e o organismo. Contaminado pela praga de ser um “Zé-ninguém” em mim mesmo, e ser covarde demais para o contestar…

3 comentários:

mpx disse...

Excelente texto. Um verdadeiro "prazer" lê-lo ao som de Portishead.
Que tenhas um bom ano.
cumprimentos
mpx

Pedro Rodrigues disse...

Obrigado Marcos. Um bom ano para ti também, abraço.

Matilde D'Ônix disse...

Olá Pedr.

Gosto do que escreves. Identifico-me com o teu estilo instrospectivo, por ser também aquele onde me movo melhor

Beijs